segunda-feira, 22 de outubro de 2012

R.I.P. Sylvia Kristel (outra louca do bando)



Ok, a notícia parece velha. Sylvia Kristel, heroína de uma geração inteira, morreu na semana passada. O que pouca gente sabe é que ela veio ao Brasil em 1977, menos de uma semana depois de o Corinthians havia conquistado o título de campeão paulista daquele ano, saindo de um jejum de mais de duas décadas sem títulos. E, naquele dias de festa, ela chegou a posar com a camisa do Timão e fazendo um brinde com champanhe. A foto acima é da revista Manchete. É a mesma revista que fala da festa do título. A capa era a Sylvia, num close muito bonito.

sábado, 13 de outubro de 2012

Corinthians 1977 - Rumo ao Título (10)

Chegou o grande dia, ou melhor, a grande noite. Depois de 22 anos e oito meses, o Corinthians tinha tudo naquele 13 de outubro de 1977 para conquistar um título que seria inédito para toda uma geração de torcedores. Após uma vitória por 1 a 0 e uma derrota por 2 a 1 para a Ponte Preta, o Timão precisava só de mais dois pontos para garantir o título. Um empate no tempo normal e outro na prorrogação também servia, mas ninguém queria nem pensar na hipótese. Dar chance para o azar agora, sem chance. Meio ressabiada com a derrota no domingo anterior, a Fiel veio em menor número. "Apenas" 86 mil pagantes. A cidade vivia uma atmosfera que só se viu de novo n noite de 4 de julho de 2012, quando o Timão se preparava para a conquista da Libertadores. Sem Zé Eduardo e Palhinha, Osvaldo Brandão colocou em campo Ademir e Luciano. E mandou o time pra cima da Ponte. Logo no começo, Luciano acertou a tarve e, na volta, Geraldão chutou em cima de Polozzi, que quase marcou contra. Romeu ainda chutou uma bola raspando a trave direita de Carlos e Geraldão quase fez de bicicleta. Mas Rui Rei, centroavante da Ponte, resolveu dar um showzinho. Meteu a mão na bola, reclamou de falta e tomou um amarelo. Continuou xingando o árbitro Dulcídio Vanderlei Boschilia e foi expulso. Desesperado, ainda tentou levar alguém do Corinthians com ele. Mas o time estava ligado, não caiu na provocação e manteve-se incrivelmente calmo. No segundo tempo, apesar da pressão, o gol não saía. Foi quando Angelo meteu a mão na bola, bem na lateral da grande área. Zé maria cobrou a falta na cabeça de Basílio, que escorou de cabeça para Vaguinho acertar a trave. O lateral Wladimir emendou de cabeça em cima do zagueiro Oscar, que rebateu na direção de Basílio. A santa perna direita do pé de anjo meteu a bola no fundo da rede. Eram 36 minutos e 45 segundo do segundo tempo (22h10) daquela noite. A cidade soltou um daqueles gritos inesquecíveis. Nunca  ninguém tinha visto nada igual. Houve carnaval em cada rua, em cada bairro, em cada cidade do interior de São Paulo ou mesmo do Brasil, já que o jogo teve transmissão pela TV em rede.





A festa do título foi tão grande que até o Cascão, personagem de quadrinhos e tirinhas criado por Maurício de Souza, quase tomou banho. Foi uma promessa do pequeno corinthiano, que não se cumpriu. Durante quase dois meses, leitores escreveram para a Folha de São Paulo sugerindo um lugar para o banho, mas nada foi cumprido.

Num balanço parcial de incidentes feito pela Folha, foram detidas 600 pessoas durante a festa que varou a madrugada e foram contabilizados 13 mortos, por violência ou acidente. Na Bela Vista, um palmeirense tentou tirar o sarro de torcedores da ponte e teve parte da orelha arrancada a dentadas.

Manchete de jornais no dia seguinte:

Corinthians Campeão! É o grito de um povo! (Diário Popular)

Corinthians Campeão: o povo canta nas ruas (Folha da Tarde)

Campeão dos Campeões (Gazeta Esportiva)

Este título é nosso. É do povo. Ninguém rasga (Diário da Noite)

Corinthians é um só grito de alegria: campeão de 77 (Cidade de Santos)

Saravá, campeão (Coração)

Enfim, Corinthians (Última Hora-RJ)

Corinthians, um grito de amor no Brasil (Notícias Populares)

Corinthians campeão: acabou o sofrimento (Popular da Tarde)

Corinthians vence e leva 1 milhão de pessoas em carnaval às ruas (Jornal do Brasil-RJ)

Agora, o bi Corinthians (edição especial de Placar)

Campeão! O grito 22 anos depois(O Estado de S. Paulo)

Depois de 23 anos, Corinthians campeão (O Globo-RJ)

Corinthians, meu campeão (Jornal da Tarde)

Haja cachaça (Última Hora-SP)

Corinthians Campeão! Quebrou o encanto da manchete impossível (Jornal dos Sports-RJ)


terça-feira, 9 de outubro de 2012

Corinthians 1977 - Rumo ao Título (9)

"O domingo que lembrou 16 de julho". Esse foi o título de uma matéria que li na Placar daquela semana do quase fatídico 9 de outubro. A outra data era uma alusão  á final da Copa do Mundo de 1950, quando um Maracanã superlotado assistiu o sonho de a Seleção Brasileira ser campeã do mundo pela primeira vez virar pó, aos pés de Ghiggia e Schiaffino. O cenário para o segundo jogo entre Corinthians e Ponte Preta era parecido, com recorde de público e festa preparada. Os 23 anos e oito meses de sofrimento iam acabar. Bastava esperar os 90 minutos. Mas times que enfrentam uma longa fila sofrem catástrofes muitas vezes sem explicação. A Ponte trabalhou bem o jogo de nervos antes do jogo: reclamou de a final ser no Morumbi (essa escolha havia sido feita duas semanas antes, quando as chances do Corinthians se classificar eram remotas), queixou-se de Romualdo Arpi Filho ser o árbitro designado para o jogo e chegaram até a divulgar um boato de que Adãozinho fora pego no antidoping após a primeira partida. Tudo jogo de cena. A cidade preparou-se para um grito de campeão que não se ouvia há mais de duas décadas. Durante todo o sábado e domingo, carros passavam pela cidade num buzinaço ensurdecedor. As estradas que ligavam o interior e o litoral à capital abrigaram caravanas de torcedores de todos os cantos.

E no Morumbi? Bem, simplesmente o estádio recebeu o maior público de toda a sua história: 138.032 pagantes e 8.050 menores. Nunca antes, nunca mais tanta gente foi ao estádio. Antes do jogo, um grande susto. Um pequeno barracão que abrigava centenas de balões a gás que seriam soltos na entrada dos times explodiu em frente ás cativas inferiores. Sete pessoas foram hospitalizadas, com queimadura de primeiro e segundo graus. A Folha de São Paulo veio com um caderno em cores sobre a final e ainda com a capa do caderno Folhetim  daquele domingo remetendo ao torcedor corinthiano. Em destaque, Elisa,a  viúva torcedora símbolo dos anos sem título. Símbolo da paixão. As casas de artigos de umbanda não davam conta da demanda, assim como os vendedores de bandeiras e chapéus. Do lado de fora do estádio, muita cerveja e muita cachaça. Dentro, parecia que cada torcedor tinha uma bandeira (vejam abaixo). E as faixas? "Eu te amo, não me mates!", bradava uma, "Deus e a Fiel estão aqui", lembrava outra. "Tudo nos une, nem o divórcio nos separa", defendia outra, fazendo alusão ao projeto em discussão no Senado.

                                 Imagens da torcida do Corinthians no 2º jogo

E o jogo, vc deve ter perguntado. Bem, acredito muito que só grandes times sofrem grandes decepções. O Corinthians entrou em campo precisando apenas de uma vitória para ser campeão. Se empatasse, precisaria de um novo empate, no tempo normal e na prorrogação, num terceira partida. Olhando para trás, acredita-se que o técnico Osvaldo Brandão errou ao não atacar a Ponte desde o início. Ele optou por marcar o adversário em seu campo de defesa e partir para os contra-ataques só na boa. Afinal, a tática dera certo no primeiro jogo. Só que, na quarta-feira, o time estava desfalcado de seus dois pontas (Vaguinho e Romeu), o que não era o caso no domingo. No primeiro tempo, a Ponte teve muita posse de bola, mas conseguiu entrar pouco na área corinthiana. Aos 30 minutos, Palhinha saiu com estiramento muscular e Vaguinho entrou em seu lugar. Aos 43, lançado no meio da zaga ponte-pretana, o próprio Vaguinho encobriu Carlos e fez o 1 a 0, do mesmo jeito que o Brasil marcou primeiro contra o Uruguai. A festa do "título" durou todo o intervalo. mesmo quem estava em casa, saiu para comemorar e só voltou quando o jogo já estava correndo no segundo tempo. Como maldição é maldição, o mundo desabou sobre a nação corinthiana. Aos 22 minutos, Romualdo marcou uma falta não existente de Zé Eduardo e Dicá (Schiaffino?) guardou na gaveta. Assustou, mas a Fiel ainda gritou e cantou. Até que, num lance de pura sorte, a boa sobrou para Rui Rei (Ghiggia?) virou o jogo aos 33 minutos. Depois, foi só cera da Ponte, sob os olhares complacentes do juiz. Dá para escrever uma enciclopédia com o "azar" que Romualdo dava ao Timão naquela época. Ficou tudo para a quinta-feira à noite, dia 13, no mesmo Morumbi. Tudo bem, quem esperou quase 23 anos, podia esperar mais quatro dias. Palhinha provavelmente não iria jogar, assim como Zé Eduardo (terceiro cartão) e Adãozinho (expulso, no final do jogo). Pela Ponte, não ira jogar Odirlei, também por cartão.


Frases sobre o Corinthians na época:

"Ele é tudo o que o povo tem" (Elisa, torcedora símbolo)
"Um povo que não tem vitórias na vida e que procura no campo de futebol a própria razão de sua existência" (D. Paulo Evaristo Arns, cardeal arcebispo de Paulo na época e corinthiano sempre)


segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Boa sorte, Tupãzinho

Passada a eleição, já podemos falar um pouco de política. Vi uma notícia que me deixou bem feliz: Tupãzinho, herói da conquista de nosso primeiro campeonato brasileiro, em 1990, foi eleito vereador na cidade de Tupã. Filiado ao PSB, o autor do gol do título contra os bambis teve 90 votos. A disputa lá é bem menos acirrada que nas capitais, mas ele fez bonito se pensarmos que Marcelinho Carioca e Dinei não conseguiram uma vaga em São Paulo. Proeza que o Biro-Biro já havia alcançado há quse duas décadas. Boa sorte, Tupã.



sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Corinthians 1977 - Rumo ao Título (8)

O Corinthians deu uma enorme passo rumo à conquista do Paulistão de 77 ao vencer a Ponte Preta por 1 a 0 no Morumbi. O jogo foi sofrido para a torcida e doído para Palhinha, que marcou o gol da vitória aos 14 minutos da primeira etapa. Doído porque, lançado em velocidade entre os defensores Jair e Oscar, Palhinha chutou forte em cima do goleiro Carlos e a bola voltou violentamente contra o seu rosto, indo morrer no fundo da rede, para o delírio dos mais de 65 mil pagantes naquela noite. Foi um jogo atípico porque o Timão estava desfalcado de seus dois pontas (Vaguinho e Romeu) e entrou marcando forte em seu campo de defesa. Com isso, a Ponte teve muita posse de bola, mas ficou aberta para contra-ataques, que aconteceram o jogo todo. Foram vários gols perdidos, incluindo um lance bizarro em que o centroavante Geraldão pisou na bola na hora de chutar. A vitória iniciou um carnaval antecipado, com fogos pela cidade e  folia na avenida Paulista. Os mais supersticiosos não gostaram disso. Tinham duas décadas de sofrimento nas costas e já haviam visto de tudo no futebol. Estavam com a razão. No segundo jogo, quando uma vitória  simples bastava, as coisas se complicaram, Afina, não há vitórias simples para o Corinthians. Mas isso fica para o posto do dia 9.



Enquanto isso... (1) A cidade parou para assistir no estádio ou na TV a primeira partida da final do campeonato Paulista de 1977. Perto das 21h daquele 5 de outubro, as ruas estavam quase vazias de pessoas e carros. O movimento dos cinemas era pífio. Pouca gente foi assistir a Dersu Uzala, que estreara no cine Arouche há poucos dias, ou a reprise de Psicose, em cartaz no Metro e Gemini, ou ainda ao Jesus Cristo Superstar, no Comodoro. Na mesma hora do jogo, o violinista húngaro Gyorgy Pauk se apresentava no MASP, com expectativa de poucas testemunhas. Até o Jóquei Clube cancelou as provas daquela noite. Afinal em dias de jogos na TV a presença de público caía 40%.

Enquanto isso... (2) Naquela quarta-feira, o ministro da Fazenda Mário Henrique Simonsen anunciou que a inflação de setembro alcançou 1,87%, acumulando 28,9% no ano.

Enquanto isso... (3) Naquela tarde, o líder da oposição no Senado, Franco Montoro (MDB-SP) discursou no Congresso em defesa do jornalista Carlos Chagas, então colunista do Estadão e que estava ameaçado de ser enquadrado na Lei de Segurança Nacional por ter noticiado a invasão do campus da UNB por "forças de segurança" meses antes.

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Corinthians 1977 - Rumo ao Título (7)


E o Corinthians chegou finalmente à final do Campeonato Paulista de 1977. Para isso, venceu o São Paulo por 2 a 1 num Morumbi lotado e um domingo ensolarado no dia 2 de outubro. O Timão precisava vencer e entrou com garra, vontade e o apoio da Fiel, maioria absoluta das mais de 105 mil almas presente no Morumbi (a proporção era de 5 corinthianos para 1 sãopaulino). Carros e ônibus com bandeiras alvinegras pintavam não só a cidade, como também as estradas que davam acesso à capital:  Raposo, Anchieta, Anhanguera, Dutra, formavam uma alegre caravana com muito buzinaço. O técnico tricolor, Rubens Minelli, armou o time para segurar o empate, chegando a escalar um tal de Perez no lugar de Terto só para marcar o ponta-esquerda Romeu. O Timão marcou aos 41  da primeira etapa, com Geraldão escorando um cruzamento de Basílio. No segundo tempo, logo aos 9 minutos, Romeu aproveitou um contra-ataque, ampliou o placar e sai para a famosa cambalhota. O São Paulo foi pra frente e só marcou aos 32 minutos, num lance em que a bola nem entrou, mas o bandeirinha deu o gol. O resto do jogo foi só emoção e chutão. Afinal, o empate daria a vaga aos bambis (na época eram os pós-de-arroz). A final seria decidida contra a Ponte Preta numa melhor de quatro pontos (ou três jogos). O Corinthians perdera todos os jogos para a Ponte até ali e ia jogar a primeira final desfalcado de Vaguinho e Romeu. Mas e daí? Com maior número de vitórias no torneio, o Corinthians poderia empatar a prorrogação do último jogo para levantar a taça. A realização do sonho estava próxima...

                                                Uma homenagem ao artilheiro Geraldão


Enquanto isso (1)...“Alguma coisa acontece no meu coração...” Foi na edição de 02 de outubro de 1977 do caderno Folhetim, da Folha de S. Paulo, que o público brasileiro tomou conhecimento pela primeira vez da letra da música Sampa, até hoje considerada como a canção-tema não oficial da cidade. Caetano Veloso foi um dos entrevistados no jornal daquele domingo (ou outro foi o filósofo francês Jean Paul Sartre) e contou que escreveu a música para um especial que iria ao ar na TV Bandeirantes. A pedido dos repórteres Jary Cardoso e Maria José Arrojo, ele divulgou a letra ainda não superada como retrato fiel da metrópole. O momento cultura estava em alta na cidade, com show do Caetano, a Bienal que abrira na véspera e o 1ª Mostra Internacional de Cinema, que ia começar daí há 20 dias.

Enquanto isso (2)... Aquele clássico entre Corinthians e São Paulo de 35 anos atrás marcou a estreia do locutor Osmar Santos na rádio Globo. Contratado a peso de ouro e vindo da Jovem Pan, Osmar tinha um jeito revolucionário de narrar o jogo, com extremo bom humor e com bordões como “ripa na chulipa e pimba na gorduchina”, “é fogo no boné do guarda”, além do inesquecível grito de “E que goooooool”. A saída da Pan gerou uma crise, ameaça de processo por rompimento de contrato, inflação de salários nas emissoras e uma competição no radio nunca vista antes. Aos poucos, a Globo foi ganhando audiência e se fixou na memória de uma geração inteira de torcedores.

Enquanto isso (3)... Na noite daquele domingo, a TV Cultura estreou um programa revolucionário para os padrões de então, o Vox Populi, com perguntas do povo nas rusas para um entrevistado no estúdio. O primeiro entrevistado era o temido secretário de Segurança Pública Erasmo Dias, envolvido naqueles dias em episódio de dura repressão a reuniões de estudantes na USP e na PUC.

sábado, 29 de setembro de 2012

Corinthians 1977 - Rumo ao título (6)


Confesso que quando decidi fazer um  quase diário do título paulista de 1977 a partir do início do turno decisivo, e mergulhar nas páginas dos jornais da época não imaginava que fosse me envolver tanto. Me peguei torcendo e roendo as unhas nos dias que antecediam os jogos. Não foi diferente neste Corinthians e Portuguesa do dia 29 de julho daquele ano. No Grupo E, estava tudo decidido: a Ponte Preta deu uma arrancada rumo à final e ficou muito folgada na frente, deixando Palmeiras, Santos e Botafogo-RP a ver navios. No Grupo F, a situação foi bem mais complicada. O São Paulo conseguiu uma sequência de vitórias e ficou na liderança com 8 pontos (na época, a vitória valia 2 pontos), deixando Lusa com 6 e Corinthians com 5. Assim, o clássico daquela fria noite no Morumbi era do tipo “perdeu, morreu”. Mais de 35 mil pessoas assistiram a um Corinthians que entrou em campo tocando a bola, sem pressa, porém sem nenhum objetividade. No segundo tempo, o time voltou mais ligado. Zé Maria perdeu um gol feito logo no início. Aos 20 minutos, Adãozinho substituiu Vaguinho e, no minuto seguinte, lançou Geraldão, que cabeceou meio esquisito, por cobertura sobre o goleiro Moacir. O atacante ficou caído no gramado devido a uma pancada nas costas, enquanto a Fiel fazia enorme festa. Depois, foi só segurar a Lusa. Ficou tudo para o domingo, num clássico contra o São Paulo que ia decidir o outro finalista do campeonato. O empate era deles e o meia/atacante Palhinha ainda tomou o terceiro cartão amarelo e era desfalque certo. A Fiel começou a sonhar com o título, mas mantinha os pés bem fincados no chão.

Enquanto isso... O diretor-geral do FMI critica as elevadas taxas de desemprego nos países ricos e o crescente protecionismo comercial. O presidente do Banco Mundial faz um apelo aos países desenvolvidos para que criem políticas econômicas que ajudem as nações mais pobres. O ministro da Fazenda brasileiro retruca que protecionismo quem faz são as economias mais desenvolvidas. E o presidente dos Estados Unidos se compromete a não tomar medidas de restrição ao comércio exterior, apenas do crescente déficit público. Parece um resumo dos dias atuais, mas as pessoas envolvidas são Johannes Wittevenn, Robert MacNamara, Mário Henrique Simonsen e Jimmy Carter, que participaram naqueles dias de setembro de 77 da 32ª Assembleia do FMI e do Banco Mundial, em Washington.


terça-feira, 25 de setembro de 2012

Corinthians 1977 - Rumo ao título (5)

O Corinthians ainda tinha três jogos para realizar no terceiro turno do Paulistão de 1977 e não podia empatar nenhum. Vitórias do São Paulo e da Portuguesa ao longo da semana tinham deixado o Timão numa situação difícil, com apenas 3 pontos ganhos do Grupo F, contra 8 do time do Morumbi e 5 da Lusa. Naquele domingo de 25 de setembro, o Corinthians jogou uma espécie de final em Ribeirão Preto, com 29 mil pagantes no estádio Santa Cruz. Quem perdesse, estava fora. Para a surpresa geral, o time não entrou em campo nervoso e dominou boa parte do jogo, sufocando o Botafogo, que não era nenhum timinho - havia ganho o 1º turno da competição. Mesmo com a pressão exercida, o ataque falhou muito na finalização, em especial o centroavante Geraldão, e o gol só saiu aos 16 minutos do segundo tempo, com Romeu pegando um rebote de fora da área, após escanteio. No Pacaembu, um pouco antes, Ponte Preta e Lusa empataram em 1 a 1, o que classificou a equipe campineira para a final e deixou os portugueses com seis pontos, contra 5 do Corinthians. Na quarta-feira, o Timão enfrentaria a própria Portuguesa no Morumbi e precisava, de novo, ganhar a qualquer custo. Para se manter vivo e disputar a vaga na finalíssima num confronto direto com o São Paulo no domingo seguinte.



Enquanto isso... "Não aceitaremos a polícia como juiz do povo", afirmou Dom Paulo Evaristo Arns em visita à PUC poucos dias depois da invasão do campus pela PM. Comandados pelo secretário de Segurança Erasmo Dias e pelo diretor do Deops Romeu Tuma, os policiais interromperam na noite de 22 de setembro uma assembleia de alunos que durou apenas 15 minutos, arrombando portas e soltando bombas. Além de vários feridos, com maior ou menor gravidade, cerca de 2 mil pessoas foram presas. Após triagem, 845 foram levadas para a sede da Rota e 32 foram enquadrados na lei de Segurança Nacional. Entre os presos, estavam o jornalista Mario Sergio Conti, que hoje apresenta o Roda Viva, e Claudia Costin, que foi ministra no governo FHC e hoje comanda a pasta da Educação no Rio de Janeiro. O governador biônico Paulo Egydio Martins alertou que o Partido Comunista estava tentando dominar o movimento estudantil e chegou a apresentar "material subversivo" apreendido durante a operação. Nesse material, faixas com os dizeres "Abaixo a Carestia", "Por eleições livres e diretas", "Anistia ampla e irrestrita" e "Volta dos exilados e cassados políticos". Um absurdo! Por falar em políticos cassados, naquela semana, o ex-governador do Rio Grande do Sul Leonel Brizola, exilado há 13 anos no Uruguai, foi expulso daquele país e pediu asilo político nos Estados Unidos. O Estadão fez uma matéria provocativa, uma vez que o caudilho criticava o imperialismo ianque e já havia dito que considerava Cuba sua segunda pátria.

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Corinthians 1977 - Rumo ao título (4)

O presidente Vicente Matheus peitou até o temido ex-secretário de Segurança Pública Erasmo Dias - que acreditava ser o Morumbi o único estádio em condições de oferecer segurança aos torcedores naquele 21 de setembro de 1977 - e conseguiu manter o jogo no Pacaembu. Ele argumentou que o tempo andava frio e chuvoso (o que diminuiria o público), que o Guarani já estava desclassificado, que o gramado do Morumbi estava uma porcaria, etc. A Federação Paulista concordou e o coronel também, talvez porque precisasse aumentar o efetivo em outros locais naquela noite (leia abaixo no "Enquanto isso..."). Mas todo o esforço foi em vão. O time campineiro venceu por 1 a 0, diante de mais de 40 mil incrédulos corinthianos. O Bugre entrou numa retranca de lascar e aproveitou o nervosismo de time e torcida para cravar o 14º ponto perdido do Timão contra os times de Campinas na competição. O gol foi de Ziza, aos 19  minutos do segundo tempo, em falha do goleiro Tobias. Depois, o time do interior ficou fazendo cera, sob o olhar complacente do árbitro Romualdo Arpi Filho. A torcida corinthiana começou a mostrar desespero: hostilizou o presidente Matheus, reclamou do Tobias, pediu a saída dos diretores, o corte do bicho dos jogadores e sabe-se lá mais o quê. A desclassificação só não veio porque a Ponte Preta ganhou do São Paulo naquela noite. Assim, o time do Morumbi permanecia com seis pontos, ante 3 de Corinthians e Portuguesa. A partir dali, era ganhar ou ganhar. E ainda faltavam os jogos contra o Botafogo, em Ribeirão Preto, a Lusa e próprio São Paulo.


Enquanto isso...
"Queríamos os pombos e pegamos os urubus". Foi assim que o coronel Erasmo Dias comentou a prisão de cerca de 200 estudantes, que tentaram participar do 3º Encontro Nacional, marcado para o campus da USP naquela manhã de 21 de setembro. O secretário de Segurança Pública estava se lamentando de não ter conseguido colocar as mãos nos líderes no movimento estudantil que se insinuava naquele final dos anos 70. Foi uma preparação de guerra, que envolveu milhares de policiais militares, carros do DSV fechando o sitiado campus da USP, além de operações semelhantes na PUC, FGV e Largo São Francisco. Blitze nas rodoviárias de Campinas, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Brasília impediram vários estudantes de se deslocarem para São Paulo naquela semana. Uma lista dos mais "perigosos" estudantes circulava nas mãos dos policiais. A maior resistência ocorreu na Faculdade de Medicina, onde os alunos se trancaram até que o Batalhão de Choque ameaçou invadir. Só neste local, 176 pessoas foram presas, mas ninguém foi enquadrado na Lei de Segurança Nacional. A situação ainda iria complicar bastante nas semanas seguintes.

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Corinthians 1977 - Rumo ao título (3)


O terceiro jogo do Corinthians no turno decisivo de 1977 foi uma pré-decisão. O clássico contra o Palmeiras no dia 18 de setembro era de vida ou morte para os dois. Com apenas 1 ponto ganho em 2 jogos, o Timão não podia nem pensar em perder, já que o São Paulo havia ganho de Santos e Botafogo durante a semana e já acumulava cinco pontos no Grupo F. O Palmeiras estava com dois pontos em três jogos no Grupo E, atrás de Ponte Preta, Botafogo e Santos. Apesar da fase dos dois times, mais de 44 mil pessoas pagaram ingresso e assistiram a um duelo mais tático que técnico. Como o Palmeiras estava totalmente sem inspiração, o Corinthians aproveitou. Zé Maria fez 1 a 0, cobrando pênalti sofrido por Palhinha, numa segunda cobrança (a primeira entrou, mas o juiz mandou voltar). No segundo tempo, Vaguinho ampliou, de cabeça, após cruzamento de Romeu. O Corinthians respirava e o Palmeiras dava adeus ao campeonato. Mas ainda teríamos muito drama pela frente.



Enquanto isso... Naquele domingo, a população de São Paulo descobriu que a proclamada abertura política do governo Geisel ainda teria um longo caminho a percorrer. Não bastasse a prisão, poucos dias antes, do cronista da Folha de São Paulo Lourenço Diaféria, um ato chamado “Solidariedade aos Injustiçados e Oprimidos”, marcado para a igreja de Nossa Senhora da Penha e organizada pela Comissão de Justiça e Paz de São Paulo, terminou com pancadaria protagonizada pelas “forças de segurança”. Com direito a bombas de feito moral e mais de 50 prisões, agentes à paisana distribuíram socos, pontapés e golpes de cassetetes nos manifestantes que saíram em passeata pelas ruas do bairro. Sobrou até para a reportagem que cobria o evento. Maus presságios para a semana que teria 3º Encontro Nacional dos Estudantes, marcado para o campus da USP.

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Corinthians 1977 - Rumo ao título (2)


O segundo jogo do Corinthians no turno decisivo do Paulistão de 1977 tinha tudo para ser uma grande festa. Mas a festa foi dos visitantes. Pela terceira vez no ano, a Ponte Preta bateu o Corinthians. Foi 1 x 0, gol de canela de Rui Rei aos 10 minutos do segundo tempo, no dia 11 de setembro daquele ano. O técnico Osvaldo Brandão, precavido com os revezes anteriores (4 a 0 para a Macaca no primeiro turno em Campinas e 2 a 1 no Pacaembu no segundo turno), armou o time fechado, com Luciano e Adãozinho focados só na marcação no meio campo e o ponta Vaguinho com a obrigação de colar em Odirlei. O jogo foi feio e truncado, segundo os relatos dos jornais na época, mas o Corinthians ainda consegui acertar uma bola no travessão no primeiro tempo. Os mais de 63 mil corinthianos que foram ao Morumbi naquele domingo ficaram bem cabreiros. Será que a esperança ia virar pó de novo? Com os resultados dos jogos até aquela momento, Ponte e Botafogo lideravam o Grupo E, com quatro pontos ganhos, seguidos por Santos com 3 pontos e Palmeiras com 2. No grupo F, a Portuguesa apontava na liderança, com 3 pontos, seguida por São Paulo, com 2, e Corinthians e Guarani na lanterna, com 1 ponto. O jogo seguinte seria contra o Palmeiras, adversário da final do segundo turno. E já era decisão.

Enquanto isso... Naquela semana, o assunto no futebol era a violência dos torcedores. No jogo contra o Santos, um integrante da Gaviões da Fiel levou uma facada de santistas dentro do Morumbi e levou 26 pontos nas costas. Entrevistado na época, ele contou que foi para as Clínicas, foi atendido, voltou ao estádio ficou até o Timão empatar o jogo. Então, desmaiou de dor. De uma reunião de uma associação das torcidas organizadas com o coronel Erasmo Dias, então secretário de Segurança Pública, surgiu a ideia de separar a entradas das torcidas e a proibição da entrada de vasilhames de vidro e de objetos de metal nos estádios. Também foi anunciada a criação de um seguro para o torcedor. Quem tem ingressos do final dos anos 70 pode observar que há um número de apólice no canhoto.

domingo, 9 de setembro de 2012

Bando de Mishiguenes

Fui ontem ao Pacaembu conferir a vitória por 3 a 1 contra o Grêmio acompanhado do meu filho, numa noite  quente em São Paulo e com várias famílias no estádio. Ali, na arquibancada laranja, vi chegar um pai com dois filhos vestindo uma camisa que eu ainda não tinha visto: entre duas estrelas de Davi, estava escrita a frase "Bando de Mishiguenes". Era óbvio que se tratava de uma expressão usada por judeus, mas para não cometer nenhuma gafe fui conversar com o cara no final do jogo. "Mishiguenes" nada mais era que "Loucos" em hebraico. Pesquisando hoje, vi que a comunidade de Mishiguenes no Facebook tem mais de mil seguidores. E pesquisando mais um pouco, em sites sobre acultura judaica, descobri o significado mais amplo da palavra. O "Mishiguene" é "o "louco que está em todos nós", é "a pulsão de uma herança de glórias e sofrimentos". Nada mais corinthiano. Esse é o Corinthians, de todas as raças, religiões e classes sociais.




terça-feira, 4 de setembro de 2012

Corinthians 1977 - rumo ao título (1)

Resolvi fazer um passo a passo do título de 1977, que vai completar 35 anos no próximo dia 13 de outubro. A data de 4 de setembro é importante porque foi quando começou para nós o turno decisivo do Paulistão, num jogão entre Corinthians e Santos no Morumbi, para mais de 77 mil pagantes. Eram oito clubes (Corinthians, Palmeiras, São Paulo, Santos, Ponte Preta, Guarani, Portuguesa e Botafogo-RP), divididos em dois grupos e jogando todos contra todos em turno único. Os vencedores de cada grupo fariam a final. A primeira rodada começou no sábado, num 0 x 0 entre Palmeiras e São Paulo. No domingo, a Ponte bateu o Bugre e o Botafogo venceu a Portuguesa, ambos por 2 a 0. No Morumbi, o Santos começou fazendo 2 a 0, mas o Timão empatou ainda no primeiro tempo, com Romeu e Adãozinho. O 2 a 2 foi considerado bom, já que o São Paulo também só havia feito um ponto e Guarani e Portuguesa ficaram no zero. Portanto, estávamos na liderança do Grupo F. Mas a coisa ia complicar. Semana que vem eu conto.

* Enquanto isso...A ditadura militar ainda comandava, embora não houvesse censura aos jornais. Laudo Natel, Paulo Maluf e Claudio Lembo percorriam o interior do Estado em busca de apoio de arenistas para a escolha indireta do próximo governador de São Paulo. o nome de João Figueiredo começava a fica mais forte como possível sucessor de Ernesto Geisel na Presidência. Na Folha de São Paulo, matéria de Paulo Markun anunciava que "Surge no Brasil a 'consciência ecológica'", e o repórter Eduardo Suplicy relatava uma reunião de metalúrgicos em São Bernardo presidida por um tal de Luís Ignácio da Silva. No Estadão, Magda de Almeida entrevistava o general Jaime Portela, que estava escrevendo um livro sobre a 'Revolução': "Costa e Silva esboçou o AI-5, revela general", dizia a matéria.



domingo, 2 de setembro de 2012

Corinthians, 102 anos

Estava envolvido com outras coisas ontem e nem tive tempo de postar alguma coisa sobre o aniversário do Timão. Então, pego emprestadas algumas imagens do amigo Cley Scholz, do blog Reclames do Estadão. Porque o centenário jornal paulistano já cobria o Corinthians antes de o time ser fundado. É que eles deram matérias sobre os ingleses do Corinthian Team em sua passagem no Brasil em 2010. Abaixo, um anúncio chamando para o jogo no Velódromo no dia 31 de agosto daquele ano. Foi neste jogo que alguns operários e comerciantes tiveram a ideia de fundar um time em homenagem aos ingleses, Ainda bem. Uma das ideias originais era dar o nome de Santos Dumont. Vixe!


E uma foto do time inglês


Adeus, Ruço

Rrrrrrrrrrrrrrrrrruuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuusssssssssssssssssssssoooooooooooo, o Beijinho Doce! Era assim que o locutor Osmar Santos narrava quando o meio-campista do Timão marcava um gol. Ele saía distribuindo beijos a cada gol. Daí do apelido. Ruço era valente, raçudo e de um vigor físico impressionante, características que o deixavam como um dos favoritos da Fiel. Não bastasse ter feito parte do time titular de 1977, o que já o coloca na eternidade, foi de Ruço o gol de empate contra o Fluminense na semifinal do Brasileiro de 1976, jogo que ficou conhecido como o da invasão do Maracanã pela torcida corinthiana. Ruço morreu hoje, aos 63 anos, vítima de um AVC. Descanse em paz, herói de 77.



sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Corinthians 1 x 0 Palmeiras (31/08/77) - Ensaio do Carnaval

Há 35 anos, o Corinthians iniciava sua arrancada rumo ao título de campeão paulista de 1977, o ano da redenção. Carregando o fardo de não levantar uma taça importante há quase 23 anos, o Timão ia enfrentar à noite seu maior rival, o Palmeiras, pelo titulo da Taça Cidade de São Paulo, equivalente ao segundo turno da competição. O título era quase simbólico, uma vez que o terceiro e decisivo turno ia começar no final de semana, mas a cidade parou mesmo assim. Será que o time ia tremer? A lembrança da derrota em 1974 ia atrapalhar? Nada disso. O time era de guerreiros, equilibrava bem garra e técnica e a torcida vivia um momento único em sua história. As filas no Anhangabaú para pegar a condução ao Morumbi, os ônibus da CMTC, começaram às 15h e se estendiam do Viaduto do Chá até a avenida São João. Os portões do estádio foram abertos quando o São Paulo ainda estava treinando. Dos 102.939 pagantes e 4.880 menores que compareceram, quase 90% eram corinthianos (os relatos estão nos jornais da época). Primeiro tempo nervoso, cheio de faltas duras. Mas o Timão estava muito focado e, com tranquilidade, foi dominando o jogo, até que Geraldão aproveitou aos 29 min do 2º tempo um rebote de Leão em chute do lateral Wladimir e decretou nossa vitória. Enlouquecida, a torcida fez um carnaval na madrugada de 1º de setembro e seguiu a taça, que estava num carro do coro de bombeiros da Avenida Paulista até o parque S. Jorge. Lembro que a revista Placar deu o seguinte título para  a matéria sobre o jogo: "A quarta-feira da paixão". Nos vestiários, o presidente Vicente Matheus decretou: "Esse foi o apronto para a conquista do título final". Amém. Em 13 de outubro, veio a libertação final. Mas essa é outra história.


quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Craques de Corinthians e Fluminense

Fiquei pensando no que postar sobre o jogo de hoje à noite entre Corinthians e Fluminense. Falar da invasão do Maracanã em 1976 é um pouco óbvio e merece um post à parte em outra ocasião. Como temos o caso recente da vinda do Emerson Sheik das Laranjeiras para o Parque São Jorge, para as conquistas do Campeonato Brasileiro de 2011 e da Libertadores 2012, tive a ideia de listar alguns craques que vestiram as duas camisas. Natural pensar de cara no Rivelino, o Reizinho do Parque, que ficou intimamente identificado com aquele período sem títulos entre as décadas de 60 e 70, tanto que saiu corrido de São Paulo para ser bicampeão carioca na Máquina Tricolor de 1975 e 1976. Citando a invasão, a mágoa corinthiana era tanta que a Fiel levou faixas para o estádio com dizeres tipo "Ruimvelino" e "Horrivelino". Mas antes dele tivemos o centroavante Flavio, artilheiro do Paulistão de 1967 e um dos heróis da quebra do Tabu contra o Santos em 1968. Também saiu do Corinthians, em 1969, para ser campeão no Flu no mesmo ano, fazendo os três gols na final contra o Flamengo. Pouca gente lembra, mas o Vampeta jogou nas Laranjeiras, emprestado pelo holandês PSV, antes de brilhar no Corinthians na virada dos anos 90 para os 2000. E o grande goleiro Ronaldo não teve no Flu o mesmo brilho que mostrou no alvinegro. O meia Carlos Alberto, revelando pelo Flu, foi campeão brasileiro no Timão em 2005. E ainda tem o He-Man Rafael Moura, que fez seus golzinhos lá e cá, mas não brilhou em nenhum dos dois.

                                                         
                                                    Flavio, Sheik e Ronaldo


sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Corinthians 5 x 4 Lusa (R.I.P. Félix)

Morreu hoje o ex-goleiro Félix, campeão do mundo em 1970. Sempre elogiei muito aquela seleção, uma síntese de futebol bem jogado, com plano tático bem desenvolvido e preparo físico monumental. Diziam que faltava um goleiro naquela time e que os reservas Leão e Ado (do Corinthians) eram melhores que o titular. Mas vi uns tapes da Copa e o Félix fechou o gol contra a Inglaterra, no jogo mais difícil. Mas o que o Félix está fazendo num blog sobre Corinthians? Ora, antes de ir para o Fluminense, ele foi titular alguns anos na Portuguesa e estava no gol num dos jogos mais emocionantes da história do Corinthians. Foi em 1966, pelo Rio-São Paulo. Começo fulminante, com o Timão fazendo 2 a 0 em menos de dois minutos. A Lusa empatou e foi igualando o marcador a cada vantagem que o Corinthians obtinha. O atacante Flavio foi o herói, com três gols, sendo o último numa falta cobrada no ângulo aos 42 minutos do segundo tempo. Abaixo, o relato do jogo no Estadão no dia seguinte e um compacto da TV Bandeirantes. Descanse em paz, Félix.



quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Do pó de arroz ao bambi, os tricolores sempre foram "finos"

Antes de um clássico como o de domingo, pode até soar como provocação, mas é preciso colocar os pingos nos is. Não é de hoje que os sãopaulinos são chamados de gays, veados, homossexuais e outros nomes. Quando comecei a torcer e ir aos estádios, nos anos 70, a torcida tricolor usava como marketing a história de serem mais finos e educados e gastavam toneladas de pó de arroz nos jogos (a Dragões da Real era a mais animada). No primeiro jogo que fui contra eles, quando a torcida tentou entoar uns gritos de guerra, um corinthiano ao meu lado bradou: - seus travestis!. Pois bem, comecemos com a história do pós de arroz. Isso começou no Rio de Janeiro, com o Fluminense, que herdou uns jogadores do América ainda nos anos 10 do século XX, entre eles um mulato, chamado Carlos Alberto. Com o esporte elitista e o clube racista, um jeito de evitar críticas da torcida foi "clarear" a pele com o tal do pós de arroz. Claro que as torcidas adversárias passaram a usar isso como forma de tirar um sarro. O ambiente do futebol é machista mesmo e um jeito de desestabilizar adversários é sugerir que um jogador, um torcedor, um dirigente seja efeminado. Pois bem, o São Paulo surgiu nos anos 30, quando o futebol já não era tão elitista e aceitava sem problemas jogadores negros (com algumas exceções, né Grêmio e Palmeiras?). A torcida sãopaulina começou a usar isso para se diferenciar, sem nenhum tipo de pressão social ou qualquer outra desculpa. Sobre o Bambi, o filme foi feito pela Disney em 1942 e, apesar de o personagem ser um tando frutinha, era algo infantil. Mas, com o tempo, chamar alguém de veadinho ou de bambizinho acabou virando uma ofensa. Para achegar ao futebol e para que as torcidas associassem a alcunha aos times "de elite" não precisou de muita coisa. Em 1969, Estevam Sangirardi criou vários personagens torcedores de futebol em seu Show de Radio e o sãopaulino era um sujeito afetadíssimo chamado Lorde Didu du Morumbi, que tinha um mordomo chamado Archibald. E a torcida sãopaulina adorava. Quando o Vampeta tornou o apelido Bambi célebre, já nos anos 90, foi apenas uma constatação. Abaixo, links para um video dos sãopaulinos festejando com pó de arroz em 1978 e um programa do Show de Radio que tem o tal do Didu.



quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Eterno 11 a zero (o Santos nunca soube perder)

A torcida do do Corinthians vive levando a campo nos clássicos contra o Santos faixas aludindo ao "Eterno 7 a 1", numa referência à goleada impiedosa aplicada sobre o rival no Campeonato Brasileiro de 2005, com um show de Carlitos Tevez - e também uma provocação ao filme Pelé Eterno, documentário que estreara um ano antes. Mas eterno mesmo é o resultado de 11 a 0 aplicado no Campeonato Paulista de 1920. Pelo relato do Estadão no dia seguinte (veja abaixo), o gramado da Vila estava um charco e ainda foi realizada uma preliminar, que o Timão ganhou também. O primeiro tempo do jogo principal terminou 3 a 0, e foi aos 10 minutos do segundo tempo que a coisa degringolou para os peixeiros. O juiz deu "hands" e marcou um "penalty-kick" para o Corinthians, o que gerou protestos dos santistas. Não ficou explicado no relato do jogo, mas depois do quarto gol o Santos passou a revezar alguns jogadores no gol e foi forçando expulsões (cinco). mesmo com o jogo acabando aos 21 minutos do segundo tempo, ainda deu para enfiar mais sete gols nos caras. Não é verdade que o time deles marcou várias vezes contra sua meta, pois apenas um gol foi contra. Fugir da raia durante uma goelada parece ser uma praxe na história santista: em 1963, eles fizeram um cai-cai num clássico que o São Paulo vencia por 4 a 1. Lmbro que, em 1978, o Sócrates impediu que o Ailton Lira batesse num juiz durante um clássico (ele armou o soco). E não dá para esquecer que eles apagaram a luz do estádio no jogo da Libertadores deste ano, durante um contra-ataque do Corinthians. Saber perder faz parte de ser um grande time.
 

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Corinthians no Cinema 1 (Moral em Concordata)


Estava querendo iniciar essa série, que vai falar de filmes com alguma referência ao Corinthians, com um exemplo nada óbvio. E lembrei deste filme de 1959, "Moral em Concordata", com Jardel Filho e Odete Lara. Livremente "inspirado" no filme de Elia Kazan "Uma Rua Chamada Pecado", da peça de Tennessee Willians "Um Bonde Chamado Desejo", o filme mostra um Jardel Filho (Raul), operário beberrão, mulherengo e morador da Mooca, casado com a submissa Estrela (não, não é Stella). Ela tem uma irmã lindona e prostituta de luxo chamada Rosário (Maria Della Costa) e inveja sua liberdade. Quando o casal tem uma briga, Raul vai embora e leva o filho do casal. Estrela vai morar com a irmã e acaba embarcando no meso estilo de vida, embora consiga a guarda do filho de volta. A sinopse oficial diz que o casal brigou porque o time do Raul perdeu. Bem, o time é o Corinthians e o personagem vivido por Jardel Filho tinha comprado umas cervejas para acompanhar o jogo pelo radio. O time é roubado pelo juiz (como sempre) e perde para o Taubaté em pleno Pacaembu, precipitando toda a briga do casal. Vi o filme no canal Brasil e as imagens da Mooca antiga e a referência ao Timão me pegaram no ato. O visual do Jardel Filho, chupado do inesquecível Stanley Kowalski (Marlon Brando) também chama a atenção.


Ficha técnica aqui


Sócrates estreia no Corinthians

Lá vamos nós de novo com uma efeméride. Hoje faz 34 anos que o Doutor Sócrates estreou no Corinthians. Foi num clássico contra o Santos, no Morumbi, para 111.103 pagantes e 6.525 menores, na abertura do Campeonato Paulista. Foi meu primeiro jogo num estádio de futebol. O presidente Vicente Matheus estava tentando montar um esquadrão: além do Magrão, chegou o zagueiro Amaral e estava em negociação a vinda do Batista, do Inter. E olha que o Matheus já havia tentado Falcão, Cerezzo, o meia/ponta Dirceu e, dizem, Enéas (Portuguesa). O Corinthians já havia tirado a zica da fala de títulos em 1977 e nada mais temia. O Santos estava saindo de um período de seca de títulos e muitas dívidas e apresentava sua geração de meninos da Vila. O times deles era rápido, o nosso era técnico e raçudo. Resultado final: 1 a 1, com gols de Pita, para o Santos, e Rui Rei (numa cavadinha a la Romarinho) para o Timão. Os dois times fariam a final daquele turno, com vitória nossa, claro. Abaixo, links para um site especial da TV Cultura sobre a carreira do saudoso Doutor Sócrates e um video no Youtube que achei mostrando a campanha do Santos naquele ano. O primeiro jogo é esse que eu descrevi.

http://tvcultura.cmais.com.br/socrates

Corinthians 1 x 1 Santos (20/08/1978)

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Corinthians goleia o Palmeiras (1952)

Pesquisando  no Almanaque do Timão, do Celso Unzelte, à procura de alguma efeméride corinthiana, me deparei com um jogo histórico, que vai completar 60 anos no próximo dia 27: Corinthians 5 x 1 Palmeiras. Esse jogo marcou a conquista definitiva da Taça Cidade de São Paulo, triangular que reunia os melhores do último campeonato paulista. No primeiro jogo, disputado no dia 17/08/52, goleamos a Portuguesa por 4 x 0, com dois gols de Carbone. Não satisfeito, o atacante enfiou mais três nos palestrinos. Chupa!

Abaixo, a edição da Folha da Noite sobre o jogo. E o Estadao, que usou o espaço do plantão "Última Hora Esportiva", para noticiar a conquista.




quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Gringos


Agora que o peruano Guerrero já estreou e que estamos no aguardo do primeiro jogo do argentino Martinez pelo Timão, é bom relembrar casos de "gringos" que jogaram no Corinthians. O Tevez dispensa apresentações. Artilheiro, raçudo, técnico, veloz, chegou ídolo e saiu ídolo no clube. O zagueiro Gamarra também viveu uma fase espetacular no Brasileiro de 1999 - lembro de antecipações que ele fazia no meio da zaga que a gente comemorava como um gol. Não podemos esquecer nunca do colombiano Ríncon e do saudoso, mas limitado, Daniel Gonzalez. Mas tivemos também casos que não deram certo. O mais famoso é do volante uruguaio Martín Taborda, que chegou em 1978. Lembro que, naquela época, todo time queria achar um Figueroa, chileno símbolo do bicampeonato do Internacional em 75-76. O Corinthians pensou que também tinha achado um.Veio no Nacional do Uruguai, contratado por 190 mil dólares (5 milhões de cruzeiros). A expectativa era tamanha que a estreia teve um Pacaembu lotado com 67 mil pagantes e 4 mil menores. 2 a 1 no Noroeste, de virada e com um jogador a menos. Chegou em setembro, estreou em outubro e já ganhou o título do primeiro turno em novembro, numa memorável final contra o Santos (video abaixo). Mas o jogador não era tudo aquilo e a Fiel foi se desencantando.Pelo preço pago, um fiasco. A ESPN Brasil achou o Taborda lá no Uruguai recentemente. Veja no link abaixo. E qualquer dia eu falo do Hugo De León.





Matéria da ESPN Brasil sobre o Taborda

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

01/08/82 - Nasce a "Democracia Corinthiana"

Ha exatos 30 anos, o dia amanheceu meio nublado, sem indicações de que poderia haver chuva. Uma crise de bronquite na véspera quase balançou minha vontade de ir ao Morumbi ver o Corinthians x Palmeiras do 1º turno do Paulistão de 82. Chamei meu tio, que alegou que a recente crise política do Timão ia atrapalhar em campo - o Vicente Matheus estava aporrinhando o o novo presidente, Waldemar Pires. Meu irmão tava sem grana e banquei a entrada dele. O jogo começou como qualquer derby, amarrado e meio lá e cá. Abrimos o placar no primeiro tempo (Biro-Biro), tomamos o empate, fizemos o segundo (Sócrates) e... E o mundo começou a mudar. Assisti a um show de bola nos últimos minutos do jogo, o "nascimento" do Casagrande, com três gols em quatro minutos. Mais do que isso, vi o que pode ser considerado como a instalação da Democracia Corinthiana. 5 a 1 num clássico desses, com essa história, deu o aval para que Dr. Sócrates e companhia dessem início ao movimento que abalou as estruturas do arcaico futebol brasileiro.




quarta-feira, 18 de julho de 2012

Libertadores é só mais título ou é "O" título?

Passada a ressaca da brilhante conquista da Copa Libertadores da América pelo Coringão, nada melhor para começar as postagens desse blog tentando discutir o porquê de tanta festa. É importante conquistar títulos? Sim! A Libertadores, por ser uma competição internacional, traz ao vencedor um reconhecimento global? Claro! Dinheiro? Sem dúvida. Mas para entender a falta que essa taça fazia com a Fiel, é preciso voltar no tempo. E voltar muito. O Corinthians surgiu em 1910, como um time formado por operários e comerciantes, batizado em homenagem a ingleses do Corinthian Team, que em turnê por Rio e SP encantaram plateias que ainda estavam sendo introduzidas ao gosto do football. Mas o esporte cá no Brasil ainda era elitista, praticado por gente de bem em clubes como o Paulistano e o Germânia. O Corinthians varzeano quis entrar nesse seleto clube e os riquinhos formaram uma liga própria. E o Campeonato Paulista seguiu uns poucos anos com dois campeões a cada temporada, grosso modo um burguês e o outro popular. O Corinthians brigou e houve unificação das ligas. Esse é o aspecto principal: o Timão sempre brigou, para existir, para jogar, para ganhar, para se levantar de novo após cair. Bem, o futebol ficou uma coisa meio regional por décadas e o Corinthians foi soberano. Até chegar a viradas dos anos 50 para os 60. Somando más administrações ao surgimento de Pelé (e a concentração de títulos para o Santos), o Corinthinas foi ficando na fila de títulos, justamente quando o futebol começava a se nacionalizar. Mas o time brigava, lutava contra adversidades, caía e levantava de novo e essa mística atraía cada vez mais torcedores. O fim do jejum de taças regionais só veio em 1977, quando os rivais já acumulavam títulos nacionais. A nova obsessão passou a ser um campeonato brasileiro, que só veio em 1990, por meio do santo pe esquerdo do meia Neto. Passado mais esse obstáculo, os rivais olhavam de cima, como se dissessem: "ok, mas cadê o título internacional?". E a Libertadores passou a ser nosso objetivo e nosso tormento, nossa Moby Dick. A cada novo fracasso, o clube colocava o carro à frente dos bois, atropelava a lógica, criava vilões, aumentava o fantasma. Mesmo ganhar o Mundial da Fifa em 2000 não serviu para amenizar a falta que a taça continental fazia.Aí, resolveram pensar da forma correta. Para ganhar a Libertadores, é preciso acumular experiência na disputa, uma vez que ela exige uma classificação anterior. E o Corinthians começou a planejar melhor suas equipes para o Campeonato Brasileiro. Com isso, na primeira vez que disputou a Libertadores por três anos seguidos, ganhou. E agora, qual será nossa próxima meta? O que conquistar? Pra mim, qualquer título vale muito. Até o Paulista ou a Copa SP de Futebol Júnior. Aqui é Corinthians!