terça-feira, 9 de outubro de 2012

Corinthians 1977 - Rumo ao Título (9)

"O domingo que lembrou 16 de julho". Esse foi o título de uma matéria que li na Placar daquela semana do quase fatídico 9 de outubro. A outra data era uma alusão  á final da Copa do Mundo de 1950, quando um Maracanã superlotado assistiu o sonho de a Seleção Brasileira ser campeã do mundo pela primeira vez virar pó, aos pés de Ghiggia e Schiaffino. O cenário para o segundo jogo entre Corinthians e Ponte Preta era parecido, com recorde de público e festa preparada. Os 23 anos e oito meses de sofrimento iam acabar. Bastava esperar os 90 minutos. Mas times que enfrentam uma longa fila sofrem catástrofes muitas vezes sem explicação. A Ponte trabalhou bem o jogo de nervos antes do jogo: reclamou de a final ser no Morumbi (essa escolha havia sido feita duas semanas antes, quando as chances do Corinthians se classificar eram remotas), queixou-se de Romualdo Arpi Filho ser o árbitro designado para o jogo e chegaram até a divulgar um boato de que Adãozinho fora pego no antidoping após a primeira partida. Tudo jogo de cena. A cidade preparou-se para um grito de campeão que não se ouvia há mais de duas décadas. Durante todo o sábado e domingo, carros passavam pela cidade num buzinaço ensurdecedor. As estradas que ligavam o interior e o litoral à capital abrigaram caravanas de torcedores de todos os cantos.

E no Morumbi? Bem, simplesmente o estádio recebeu o maior público de toda a sua história: 138.032 pagantes e 8.050 menores. Nunca antes, nunca mais tanta gente foi ao estádio. Antes do jogo, um grande susto. Um pequeno barracão que abrigava centenas de balões a gás que seriam soltos na entrada dos times explodiu em frente ás cativas inferiores. Sete pessoas foram hospitalizadas, com queimadura de primeiro e segundo graus. A Folha de São Paulo veio com um caderno em cores sobre a final e ainda com a capa do caderno Folhetim  daquele domingo remetendo ao torcedor corinthiano. Em destaque, Elisa,a  viúva torcedora símbolo dos anos sem título. Símbolo da paixão. As casas de artigos de umbanda não davam conta da demanda, assim como os vendedores de bandeiras e chapéus. Do lado de fora do estádio, muita cerveja e muita cachaça. Dentro, parecia que cada torcedor tinha uma bandeira (vejam abaixo). E as faixas? "Eu te amo, não me mates!", bradava uma, "Deus e a Fiel estão aqui", lembrava outra. "Tudo nos une, nem o divórcio nos separa", defendia outra, fazendo alusão ao projeto em discussão no Senado.

                                 Imagens da torcida do Corinthians no 2º jogo

E o jogo, vc deve ter perguntado. Bem, acredito muito que só grandes times sofrem grandes decepções. O Corinthians entrou em campo precisando apenas de uma vitória para ser campeão. Se empatasse, precisaria de um novo empate, no tempo normal e na prorrogação, num terceira partida. Olhando para trás, acredita-se que o técnico Osvaldo Brandão errou ao não atacar a Ponte desde o início. Ele optou por marcar o adversário em seu campo de defesa e partir para os contra-ataques só na boa. Afinal, a tática dera certo no primeiro jogo. Só que, na quarta-feira, o time estava desfalcado de seus dois pontas (Vaguinho e Romeu), o que não era o caso no domingo. No primeiro tempo, a Ponte teve muita posse de bola, mas conseguiu entrar pouco na área corinthiana. Aos 30 minutos, Palhinha saiu com estiramento muscular e Vaguinho entrou em seu lugar. Aos 43, lançado no meio da zaga ponte-pretana, o próprio Vaguinho encobriu Carlos e fez o 1 a 0, do mesmo jeito que o Brasil marcou primeiro contra o Uruguai. A festa do "título" durou todo o intervalo. mesmo quem estava em casa, saiu para comemorar e só voltou quando o jogo já estava correndo no segundo tempo. Como maldição é maldição, o mundo desabou sobre a nação corinthiana. Aos 22 minutos, Romualdo marcou uma falta não existente de Zé Eduardo e Dicá (Schiaffino?) guardou na gaveta. Assustou, mas a Fiel ainda gritou e cantou. Até que, num lance de pura sorte, a boa sobrou para Rui Rei (Ghiggia?) virou o jogo aos 33 minutos. Depois, foi só cera da Ponte, sob os olhares complacentes do juiz. Dá para escrever uma enciclopédia com o "azar" que Romualdo dava ao Timão naquela época. Ficou tudo para a quinta-feira à noite, dia 13, no mesmo Morumbi. Tudo bem, quem esperou quase 23 anos, podia esperar mais quatro dias. Palhinha provavelmente não iria jogar, assim como Zé Eduardo (terceiro cartão) e Adãozinho (expulso, no final do jogo). Pela Ponte, não ira jogar Odirlei, também por cartão.


Frases sobre o Corinthians na época:

"Ele é tudo o que o povo tem" (Elisa, torcedora símbolo)
"Um povo que não tem vitórias na vida e que procura no campo de futebol a própria razão de sua existência" (D. Paulo Evaristo Arns, cardeal arcebispo de Paulo na época e corinthiano sempre)


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