sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Corinthians 1977 - Rumo ao título (4)

O presidente Vicente Matheus peitou até o temido ex-secretário de Segurança Pública Erasmo Dias - que acreditava ser o Morumbi o único estádio em condições de oferecer segurança aos torcedores naquele 21 de setembro de 1977 - e conseguiu manter o jogo no Pacaembu. Ele argumentou que o tempo andava frio e chuvoso (o que diminuiria o público), que o Guarani já estava desclassificado, que o gramado do Morumbi estava uma porcaria, etc. A Federação Paulista concordou e o coronel também, talvez porque precisasse aumentar o efetivo em outros locais naquela noite (leia abaixo no "Enquanto isso..."). Mas todo o esforço foi em vão. O time campineiro venceu por 1 a 0, diante de mais de 40 mil incrédulos corinthianos. O Bugre entrou numa retranca de lascar e aproveitou o nervosismo de time e torcida para cravar o 14º ponto perdido do Timão contra os times de Campinas na competição. O gol foi de Ziza, aos 19  minutos do segundo tempo, em falha do goleiro Tobias. Depois, o time do interior ficou fazendo cera, sob o olhar complacente do árbitro Romualdo Arpi Filho. A torcida corinthiana começou a mostrar desespero: hostilizou o presidente Matheus, reclamou do Tobias, pediu a saída dos diretores, o corte do bicho dos jogadores e sabe-se lá mais o quê. A desclassificação só não veio porque a Ponte Preta ganhou do São Paulo naquela noite. Assim, o time do Morumbi permanecia com seis pontos, ante 3 de Corinthians e Portuguesa. A partir dali, era ganhar ou ganhar. E ainda faltavam os jogos contra o Botafogo, em Ribeirão Preto, a Lusa e próprio São Paulo.


Enquanto isso...
"Queríamos os pombos e pegamos os urubus". Foi assim que o coronel Erasmo Dias comentou a prisão de cerca de 200 estudantes, que tentaram participar do 3º Encontro Nacional, marcado para o campus da USP naquela manhã de 21 de setembro. O secretário de Segurança Pública estava se lamentando de não ter conseguido colocar as mãos nos líderes no movimento estudantil que se insinuava naquele final dos anos 70. Foi uma preparação de guerra, que envolveu milhares de policiais militares, carros do DSV fechando o sitiado campus da USP, além de operações semelhantes na PUC, FGV e Largo São Francisco. Blitze nas rodoviárias de Campinas, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Brasília impediram vários estudantes de se deslocarem para São Paulo naquela semana. Uma lista dos mais "perigosos" estudantes circulava nas mãos dos policiais. A maior resistência ocorreu na Faculdade de Medicina, onde os alunos se trancaram até que o Batalhão de Choque ameaçou invadir. Só neste local, 176 pessoas foram presas, mas ninguém foi enquadrado na Lei de Segurança Nacional. A situação ainda iria complicar bastante nas semanas seguintes.

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