sábado, 29 de setembro de 2012

Corinthians 1977 - Rumo ao título (6)


Confesso que quando decidi fazer um  quase diário do título paulista de 1977 a partir do início do turno decisivo, e mergulhar nas páginas dos jornais da época não imaginava que fosse me envolver tanto. Me peguei torcendo e roendo as unhas nos dias que antecediam os jogos. Não foi diferente neste Corinthians e Portuguesa do dia 29 de julho daquele ano. No Grupo E, estava tudo decidido: a Ponte Preta deu uma arrancada rumo à final e ficou muito folgada na frente, deixando Palmeiras, Santos e Botafogo-RP a ver navios. No Grupo F, a situação foi bem mais complicada. O São Paulo conseguiu uma sequência de vitórias e ficou na liderança com 8 pontos (na época, a vitória valia 2 pontos), deixando Lusa com 6 e Corinthians com 5. Assim, o clássico daquela fria noite no Morumbi era do tipo “perdeu, morreu”. Mais de 35 mil pessoas assistiram a um Corinthians que entrou em campo tocando a bola, sem pressa, porém sem nenhum objetividade. No segundo tempo, o time voltou mais ligado. Zé Maria perdeu um gol feito logo no início. Aos 20 minutos, Adãozinho substituiu Vaguinho e, no minuto seguinte, lançou Geraldão, que cabeceou meio esquisito, por cobertura sobre o goleiro Moacir. O atacante ficou caído no gramado devido a uma pancada nas costas, enquanto a Fiel fazia enorme festa. Depois, foi só segurar a Lusa. Ficou tudo para o domingo, num clássico contra o São Paulo que ia decidir o outro finalista do campeonato. O empate era deles e o meia/atacante Palhinha ainda tomou o terceiro cartão amarelo e era desfalque certo. A Fiel começou a sonhar com o título, mas mantinha os pés bem fincados no chão.

Enquanto isso... O diretor-geral do FMI critica as elevadas taxas de desemprego nos países ricos e o crescente protecionismo comercial. O presidente do Banco Mundial faz um apelo aos países desenvolvidos para que criem políticas econômicas que ajudem as nações mais pobres. O ministro da Fazenda brasileiro retruca que protecionismo quem faz são as economias mais desenvolvidas. E o presidente dos Estados Unidos se compromete a não tomar medidas de restrição ao comércio exterior, apenas do crescente déficit público. Parece um resumo dos dias atuais, mas as pessoas envolvidas são Johannes Wittevenn, Robert MacNamara, Mário Henrique Simonsen e Jimmy Carter, que participaram naqueles dias de setembro de 77 da 32ª Assembleia do FMI e do Banco Mundial, em Washington.


terça-feira, 25 de setembro de 2012

Corinthians 1977 - Rumo ao título (5)

O Corinthians ainda tinha três jogos para realizar no terceiro turno do Paulistão de 1977 e não podia empatar nenhum. Vitórias do São Paulo e da Portuguesa ao longo da semana tinham deixado o Timão numa situação difícil, com apenas 3 pontos ganhos do Grupo F, contra 8 do time do Morumbi e 5 da Lusa. Naquele domingo de 25 de setembro, o Corinthians jogou uma espécie de final em Ribeirão Preto, com 29 mil pagantes no estádio Santa Cruz. Quem perdesse, estava fora. Para a surpresa geral, o time não entrou em campo nervoso e dominou boa parte do jogo, sufocando o Botafogo, que não era nenhum timinho - havia ganho o 1º turno da competição. Mesmo com a pressão exercida, o ataque falhou muito na finalização, em especial o centroavante Geraldão, e o gol só saiu aos 16 minutos do segundo tempo, com Romeu pegando um rebote de fora da área, após escanteio. No Pacaembu, um pouco antes, Ponte Preta e Lusa empataram em 1 a 1, o que classificou a equipe campineira para a final e deixou os portugueses com seis pontos, contra 5 do Corinthians. Na quarta-feira, o Timão enfrentaria a própria Portuguesa no Morumbi e precisava, de novo, ganhar a qualquer custo. Para se manter vivo e disputar a vaga na finalíssima num confronto direto com o São Paulo no domingo seguinte.



Enquanto isso... "Não aceitaremos a polícia como juiz do povo", afirmou Dom Paulo Evaristo Arns em visita à PUC poucos dias depois da invasão do campus pela PM. Comandados pelo secretário de Segurança Erasmo Dias e pelo diretor do Deops Romeu Tuma, os policiais interromperam na noite de 22 de setembro uma assembleia de alunos que durou apenas 15 minutos, arrombando portas e soltando bombas. Além de vários feridos, com maior ou menor gravidade, cerca de 2 mil pessoas foram presas. Após triagem, 845 foram levadas para a sede da Rota e 32 foram enquadrados na lei de Segurança Nacional. Entre os presos, estavam o jornalista Mario Sergio Conti, que hoje apresenta o Roda Viva, e Claudia Costin, que foi ministra no governo FHC e hoje comanda a pasta da Educação no Rio de Janeiro. O governador biônico Paulo Egydio Martins alertou que o Partido Comunista estava tentando dominar o movimento estudantil e chegou a apresentar "material subversivo" apreendido durante a operação. Nesse material, faixas com os dizeres "Abaixo a Carestia", "Por eleições livres e diretas", "Anistia ampla e irrestrita" e "Volta dos exilados e cassados políticos". Um absurdo! Por falar em políticos cassados, naquela semana, o ex-governador do Rio Grande do Sul Leonel Brizola, exilado há 13 anos no Uruguai, foi expulso daquele país e pediu asilo político nos Estados Unidos. O Estadão fez uma matéria provocativa, uma vez que o caudilho criticava o imperialismo ianque e já havia dito que considerava Cuba sua segunda pátria.

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Corinthians 1977 - Rumo ao título (4)

O presidente Vicente Matheus peitou até o temido ex-secretário de Segurança Pública Erasmo Dias - que acreditava ser o Morumbi o único estádio em condições de oferecer segurança aos torcedores naquele 21 de setembro de 1977 - e conseguiu manter o jogo no Pacaembu. Ele argumentou que o tempo andava frio e chuvoso (o que diminuiria o público), que o Guarani já estava desclassificado, que o gramado do Morumbi estava uma porcaria, etc. A Federação Paulista concordou e o coronel também, talvez porque precisasse aumentar o efetivo em outros locais naquela noite (leia abaixo no "Enquanto isso..."). Mas todo o esforço foi em vão. O time campineiro venceu por 1 a 0, diante de mais de 40 mil incrédulos corinthianos. O Bugre entrou numa retranca de lascar e aproveitou o nervosismo de time e torcida para cravar o 14º ponto perdido do Timão contra os times de Campinas na competição. O gol foi de Ziza, aos 19  minutos do segundo tempo, em falha do goleiro Tobias. Depois, o time do interior ficou fazendo cera, sob o olhar complacente do árbitro Romualdo Arpi Filho. A torcida corinthiana começou a mostrar desespero: hostilizou o presidente Matheus, reclamou do Tobias, pediu a saída dos diretores, o corte do bicho dos jogadores e sabe-se lá mais o quê. A desclassificação só não veio porque a Ponte Preta ganhou do São Paulo naquela noite. Assim, o time do Morumbi permanecia com seis pontos, ante 3 de Corinthians e Portuguesa. A partir dali, era ganhar ou ganhar. E ainda faltavam os jogos contra o Botafogo, em Ribeirão Preto, a Lusa e próprio São Paulo.


Enquanto isso...
"Queríamos os pombos e pegamos os urubus". Foi assim que o coronel Erasmo Dias comentou a prisão de cerca de 200 estudantes, que tentaram participar do 3º Encontro Nacional, marcado para o campus da USP naquela manhã de 21 de setembro. O secretário de Segurança Pública estava se lamentando de não ter conseguido colocar as mãos nos líderes no movimento estudantil que se insinuava naquele final dos anos 70. Foi uma preparação de guerra, que envolveu milhares de policiais militares, carros do DSV fechando o sitiado campus da USP, além de operações semelhantes na PUC, FGV e Largo São Francisco. Blitze nas rodoviárias de Campinas, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Brasília impediram vários estudantes de se deslocarem para São Paulo naquela semana. Uma lista dos mais "perigosos" estudantes circulava nas mãos dos policiais. A maior resistência ocorreu na Faculdade de Medicina, onde os alunos se trancaram até que o Batalhão de Choque ameaçou invadir. Só neste local, 176 pessoas foram presas, mas ninguém foi enquadrado na Lei de Segurança Nacional. A situação ainda iria complicar bastante nas semanas seguintes.

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Corinthians 1977 - Rumo ao título (3)


O terceiro jogo do Corinthians no turno decisivo de 1977 foi uma pré-decisão. O clássico contra o Palmeiras no dia 18 de setembro era de vida ou morte para os dois. Com apenas 1 ponto ganho em 2 jogos, o Timão não podia nem pensar em perder, já que o São Paulo havia ganho de Santos e Botafogo durante a semana e já acumulava cinco pontos no Grupo F. O Palmeiras estava com dois pontos em três jogos no Grupo E, atrás de Ponte Preta, Botafogo e Santos. Apesar da fase dos dois times, mais de 44 mil pessoas pagaram ingresso e assistiram a um duelo mais tático que técnico. Como o Palmeiras estava totalmente sem inspiração, o Corinthians aproveitou. Zé Maria fez 1 a 0, cobrando pênalti sofrido por Palhinha, numa segunda cobrança (a primeira entrou, mas o juiz mandou voltar). No segundo tempo, Vaguinho ampliou, de cabeça, após cruzamento de Romeu. O Corinthians respirava e o Palmeiras dava adeus ao campeonato. Mas ainda teríamos muito drama pela frente.



Enquanto isso... Naquele domingo, a população de São Paulo descobriu que a proclamada abertura política do governo Geisel ainda teria um longo caminho a percorrer. Não bastasse a prisão, poucos dias antes, do cronista da Folha de São Paulo Lourenço Diaféria, um ato chamado “Solidariedade aos Injustiçados e Oprimidos”, marcado para a igreja de Nossa Senhora da Penha e organizada pela Comissão de Justiça e Paz de São Paulo, terminou com pancadaria protagonizada pelas “forças de segurança”. Com direito a bombas de feito moral e mais de 50 prisões, agentes à paisana distribuíram socos, pontapés e golpes de cassetetes nos manifestantes que saíram em passeata pelas ruas do bairro. Sobrou até para a reportagem que cobria o evento. Maus presságios para a semana que teria 3º Encontro Nacional dos Estudantes, marcado para o campus da USP.

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Corinthians 1977 - Rumo ao título (2)


O segundo jogo do Corinthians no turno decisivo do Paulistão de 1977 tinha tudo para ser uma grande festa. Mas a festa foi dos visitantes. Pela terceira vez no ano, a Ponte Preta bateu o Corinthians. Foi 1 x 0, gol de canela de Rui Rei aos 10 minutos do segundo tempo, no dia 11 de setembro daquele ano. O técnico Osvaldo Brandão, precavido com os revezes anteriores (4 a 0 para a Macaca no primeiro turno em Campinas e 2 a 1 no Pacaembu no segundo turno), armou o time fechado, com Luciano e Adãozinho focados só na marcação no meio campo e o ponta Vaguinho com a obrigação de colar em Odirlei. O jogo foi feio e truncado, segundo os relatos dos jornais na época, mas o Corinthians ainda consegui acertar uma bola no travessão no primeiro tempo. Os mais de 63 mil corinthianos que foram ao Morumbi naquele domingo ficaram bem cabreiros. Será que a esperança ia virar pó de novo? Com os resultados dos jogos até aquela momento, Ponte e Botafogo lideravam o Grupo E, com quatro pontos ganhos, seguidos por Santos com 3 pontos e Palmeiras com 2. No grupo F, a Portuguesa apontava na liderança, com 3 pontos, seguida por São Paulo, com 2, e Corinthians e Guarani na lanterna, com 1 ponto. O jogo seguinte seria contra o Palmeiras, adversário da final do segundo turno. E já era decisão.

Enquanto isso... Naquela semana, o assunto no futebol era a violência dos torcedores. No jogo contra o Santos, um integrante da Gaviões da Fiel levou uma facada de santistas dentro do Morumbi e levou 26 pontos nas costas. Entrevistado na época, ele contou que foi para as Clínicas, foi atendido, voltou ao estádio ficou até o Timão empatar o jogo. Então, desmaiou de dor. De uma reunião de uma associação das torcidas organizadas com o coronel Erasmo Dias, então secretário de Segurança Pública, surgiu a ideia de separar a entradas das torcidas e a proibição da entrada de vasilhames de vidro e de objetos de metal nos estádios. Também foi anunciada a criação de um seguro para o torcedor. Quem tem ingressos do final dos anos 70 pode observar que há um número de apólice no canhoto.

domingo, 9 de setembro de 2012

Bando de Mishiguenes

Fui ontem ao Pacaembu conferir a vitória por 3 a 1 contra o Grêmio acompanhado do meu filho, numa noite  quente em São Paulo e com várias famílias no estádio. Ali, na arquibancada laranja, vi chegar um pai com dois filhos vestindo uma camisa que eu ainda não tinha visto: entre duas estrelas de Davi, estava escrita a frase "Bando de Mishiguenes". Era óbvio que se tratava de uma expressão usada por judeus, mas para não cometer nenhuma gafe fui conversar com o cara no final do jogo. "Mishiguenes" nada mais era que "Loucos" em hebraico. Pesquisando hoje, vi que a comunidade de Mishiguenes no Facebook tem mais de mil seguidores. E pesquisando mais um pouco, em sites sobre acultura judaica, descobri o significado mais amplo da palavra. O "Mishiguene" é "o "louco que está em todos nós", é "a pulsão de uma herança de glórias e sofrimentos". Nada mais corinthiano. Esse é o Corinthians, de todas as raças, religiões e classes sociais.




terça-feira, 4 de setembro de 2012

Corinthians 1977 - rumo ao título (1)

Resolvi fazer um passo a passo do título de 1977, que vai completar 35 anos no próximo dia 13 de outubro. A data de 4 de setembro é importante porque foi quando começou para nós o turno decisivo do Paulistão, num jogão entre Corinthians e Santos no Morumbi, para mais de 77 mil pagantes. Eram oito clubes (Corinthians, Palmeiras, São Paulo, Santos, Ponte Preta, Guarani, Portuguesa e Botafogo-RP), divididos em dois grupos e jogando todos contra todos em turno único. Os vencedores de cada grupo fariam a final. A primeira rodada começou no sábado, num 0 x 0 entre Palmeiras e São Paulo. No domingo, a Ponte bateu o Bugre e o Botafogo venceu a Portuguesa, ambos por 2 a 0. No Morumbi, o Santos começou fazendo 2 a 0, mas o Timão empatou ainda no primeiro tempo, com Romeu e Adãozinho. O 2 a 2 foi considerado bom, já que o São Paulo também só havia feito um ponto e Guarani e Portuguesa ficaram no zero. Portanto, estávamos na liderança do Grupo F. Mas a coisa ia complicar. Semana que vem eu conto.

* Enquanto isso...A ditadura militar ainda comandava, embora não houvesse censura aos jornais. Laudo Natel, Paulo Maluf e Claudio Lembo percorriam o interior do Estado em busca de apoio de arenistas para a escolha indireta do próximo governador de São Paulo. o nome de João Figueiredo começava a fica mais forte como possível sucessor de Ernesto Geisel na Presidência. Na Folha de São Paulo, matéria de Paulo Markun anunciava que "Surge no Brasil a 'consciência ecológica'", e o repórter Eduardo Suplicy relatava uma reunião de metalúrgicos em São Bernardo presidida por um tal de Luís Ignácio da Silva. No Estadão, Magda de Almeida entrevistava o general Jaime Portela, que estava escrevendo um livro sobre a 'Revolução': "Costa e Silva esboçou o AI-5, revela general", dizia a matéria.



domingo, 2 de setembro de 2012

Corinthians, 102 anos

Estava envolvido com outras coisas ontem e nem tive tempo de postar alguma coisa sobre o aniversário do Timão. Então, pego emprestadas algumas imagens do amigo Cley Scholz, do blog Reclames do Estadão. Porque o centenário jornal paulistano já cobria o Corinthians antes de o time ser fundado. É que eles deram matérias sobre os ingleses do Corinthian Team em sua passagem no Brasil em 2010. Abaixo, um anúncio chamando para o jogo no Velódromo no dia 31 de agosto daquele ano. Foi neste jogo que alguns operários e comerciantes tiveram a ideia de fundar um time em homenagem aos ingleses, Ainda bem. Uma das ideias originais era dar o nome de Santos Dumont. Vixe!


E uma foto do time inglês


Adeus, Ruço

Rrrrrrrrrrrrrrrrrruuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuusssssssssssssssssssssoooooooooooo, o Beijinho Doce! Era assim que o locutor Osmar Santos narrava quando o meio-campista do Timão marcava um gol. Ele saía distribuindo beijos a cada gol. Daí do apelido. Ruço era valente, raçudo e de um vigor físico impressionante, características que o deixavam como um dos favoritos da Fiel. Não bastasse ter feito parte do time titular de 1977, o que já o coloca na eternidade, foi de Ruço o gol de empate contra o Fluminense na semifinal do Brasileiro de 1976, jogo que ficou conhecido como o da invasão do Maracanã pela torcida corinthiana. Ruço morreu hoje, aos 63 anos, vítima de um AVC. Descanse em paz, herói de 77.