segunda-feira, 22 de outubro de 2012

R.I.P. Sylvia Kristel (outra louca do bando)



Ok, a notícia parece velha. Sylvia Kristel, heroína de uma geração inteira, morreu na semana passada. O que pouca gente sabe é que ela veio ao Brasil em 1977, menos de uma semana depois de o Corinthians havia conquistado o título de campeão paulista daquele ano, saindo de um jejum de mais de duas décadas sem títulos. E, naquele dias de festa, ela chegou a posar com a camisa do Timão e fazendo um brinde com champanhe. A foto acima é da revista Manchete. É a mesma revista que fala da festa do título. A capa era a Sylvia, num close muito bonito.

sábado, 13 de outubro de 2012

Corinthians 1977 - Rumo ao Título (10)

Chegou o grande dia, ou melhor, a grande noite. Depois de 22 anos e oito meses, o Corinthians tinha tudo naquele 13 de outubro de 1977 para conquistar um título que seria inédito para toda uma geração de torcedores. Após uma vitória por 1 a 0 e uma derrota por 2 a 1 para a Ponte Preta, o Timão precisava só de mais dois pontos para garantir o título. Um empate no tempo normal e outro na prorrogação também servia, mas ninguém queria nem pensar na hipótese. Dar chance para o azar agora, sem chance. Meio ressabiada com a derrota no domingo anterior, a Fiel veio em menor número. "Apenas" 86 mil pagantes. A cidade vivia uma atmosfera que só se viu de novo n noite de 4 de julho de 2012, quando o Timão se preparava para a conquista da Libertadores. Sem Zé Eduardo e Palhinha, Osvaldo Brandão colocou em campo Ademir e Luciano. E mandou o time pra cima da Ponte. Logo no começo, Luciano acertou a tarve e, na volta, Geraldão chutou em cima de Polozzi, que quase marcou contra. Romeu ainda chutou uma bola raspando a trave direita de Carlos e Geraldão quase fez de bicicleta. Mas Rui Rei, centroavante da Ponte, resolveu dar um showzinho. Meteu a mão na bola, reclamou de falta e tomou um amarelo. Continuou xingando o árbitro Dulcídio Vanderlei Boschilia e foi expulso. Desesperado, ainda tentou levar alguém do Corinthians com ele. Mas o time estava ligado, não caiu na provocação e manteve-se incrivelmente calmo. No segundo tempo, apesar da pressão, o gol não saía. Foi quando Angelo meteu a mão na bola, bem na lateral da grande área. Zé maria cobrou a falta na cabeça de Basílio, que escorou de cabeça para Vaguinho acertar a trave. O lateral Wladimir emendou de cabeça em cima do zagueiro Oscar, que rebateu na direção de Basílio. A santa perna direita do pé de anjo meteu a bola no fundo da rede. Eram 36 minutos e 45 segundo do segundo tempo (22h10) daquela noite. A cidade soltou um daqueles gritos inesquecíveis. Nunca  ninguém tinha visto nada igual. Houve carnaval em cada rua, em cada bairro, em cada cidade do interior de São Paulo ou mesmo do Brasil, já que o jogo teve transmissão pela TV em rede.





A festa do título foi tão grande que até o Cascão, personagem de quadrinhos e tirinhas criado por Maurício de Souza, quase tomou banho. Foi uma promessa do pequeno corinthiano, que não se cumpriu. Durante quase dois meses, leitores escreveram para a Folha de São Paulo sugerindo um lugar para o banho, mas nada foi cumprido.

Num balanço parcial de incidentes feito pela Folha, foram detidas 600 pessoas durante a festa que varou a madrugada e foram contabilizados 13 mortos, por violência ou acidente. Na Bela Vista, um palmeirense tentou tirar o sarro de torcedores da ponte e teve parte da orelha arrancada a dentadas.

Manchete de jornais no dia seguinte:

Corinthians Campeão! É o grito de um povo! (Diário Popular)

Corinthians Campeão: o povo canta nas ruas (Folha da Tarde)

Campeão dos Campeões (Gazeta Esportiva)

Este título é nosso. É do povo. Ninguém rasga (Diário da Noite)

Corinthians é um só grito de alegria: campeão de 77 (Cidade de Santos)

Saravá, campeão (Coração)

Enfim, Corinthians (Última Hora-RJ)

Corinthians, um grito de amor no Brasil (Notícias Populares)

Corinthians campeão: acabou o sofrimento (Popular da Tarde)

Corinthians vence e leva 1 milhão de pessoas em carnaval às ruas (Jornal do Brasil-RJ)

Agora, o bi Corinthians (edição especial de Placar)

Campeão! O grito 22 anos depois(O Estado de S. Paulo)

Depois de 23 anos, Corinthians campeão (O Globo-RJ)

Corinthians, meu campeão (Jornal da Tarde)

Haja cachaça (Última Hora-SP)

Corinthians Campeão! Quebrou o encanto da manchete impossível (Jornal dos Sports-RJ)


terça-feira, 9 de outubro de 2012

Corinthians 1977 - Rumo ao Título (9)

"O domingo que lembrou 16 de julho". Esse foi o título de uma matéria que li na Placar daquela semana do quase fatídico 9 de outubro. A outra data era uma alusão  á final da Copa do Mundo de 1950, quando um Maracanã superlotado assistiu o sonho de a Seleção Brasileira ser campeã do mundo pela primeira vez virar pó, aos pés de Ghiggia e Schiaffino. O cenário para o segundo jogo entre Corinthians e Ponte Preta era parecido, com recorde de público e festa preparada. Os 23 anos e oito meses de sofrimento iam acabar. Bastava esperar os 90 minutos. Mas times que enfrentam uma longa fila sofrem catástrofes muitas vezes sem explicação. A Ponte trabalhou bem o jogo de nervos antes do jogo: reclamou de a final ser no Morumbi (essa escolha havia sido feita duas semanas antes, quando as chances do Corinthians se classificar eram remotas), queixou-se de Romualdo Arpi Filho ser o árbitro designado para o jogo e chegaram até a divulgar um boato de que Adãozinho fora pego no antidoping após a primeira partida. Tudo jogo de cena. A cidade preparou-se para um grito de campeão que não se ouvia há mais de duas décadas. Durante todo o sábado e domingo, carros passavam pela cidade num buzinaço ensurdecedor. As estradas que ligavam o interior e o litoral à capital abrigaram caravanas de torcedores de todos os cantos.

E no Morumbi? Bem, simplesmente o estádio recebeu o maior público de toda a sua história: 138.032 pagantes e 8.050 menores. Nunca antes, nunca mais tanta gente foi ao estádio. Antes do jogo, um grande susto. Um pequeno barracão que abrigava centenas de balões a gás que seriam soltos na entrada dos times explodiu em frente ás cativas inferiores. Sete pessoas foram hospitalizadas, com queimadura de primeiro e segundo graus. A Folha de São Paulo veio com um caderno em cores sobre a final e ainda com a capa do caderno Folhetim  daquele domingo remetendo ao torcedor corinthiano. Em destaque, Elisa,a  viúva torcedora símbolo dos anos sem título. Símbolo da paixão. As casas de artigos de umbanda não davam conta da demanda, assim como os vendedores de bandeiras e chapéus. Do lado de fora do estádio, muita cerveja e muita cachaça. Dentro, parecia que cada torcedor tinha uma bandeira (vejam abaixo). E as faixas? "Eu te amo, não me mates!", bradava uma, "Deus e a Fiel estão aqui", lembrava outra. "Tudo nos une, nem o divórcio nos separa", defendia outra, fazendo alusão ao projeto em discussão no Senado.

                                 Imagens da torcida do Corinthians no 2º jogo

E o jogo, vc deve ter perguntado. Bem, acredito muito que só grandes times sofrem grandes decepções. O Corinthians entrou em campo precisando apenas de uma vitória para ser campeão. Se empatasse, precisaria de um novo empate, no tempo normal e na prorrogação, num terceira partida. Olhando para trás, acredita-se que o técnico Osvaldo Brandão errou ao não atacar a Ponte desde o início. Ele optou por marcar o adversário em seu campo de defesa e partir para os contra-ataques só na boa. Afinal, a tática dera certo no primeiro jogo. Só que, na quarta-feira, o time estava desfalcado de seus dois pontas (Vaguinho e Romeu), o que não era o caso no domingo. No primeiro tempo, a Ponte teve muita posse de bola, mas conseguiu entrar pouco na área corinthiana. Aos 30 minutos, Palhinha saiu com estiramento muscular e Vaguinho entrou em seu lugar. Aos 43, lançado no meio da zaga ponte-pretana, o próprio Vaguinho encobriu Carlos e fez o 1 a 0, do mesmo jeito que o Brasil marcou primeiro contra o Uruguai. A festa do "título" durou todo o intervalo. mesmo quem estava em casa, saiu para comemorar e só voltou quando o jogo já estava correndo no segundo tempo. Como maldição é maldição, o mundo desabou sobre a nação corinthiana. Aos 22 minutos, Romualdo marcou uma falta não existente de Zé Eduardo e Dicá (Schiaffino?) guardou na gaveta. Assustou, mas a Fiel ainda gritou e cantou. Até que, num lance de pura sorte, a boa sobrou para Rui Rei (Ghiggia?) virou o jogo aos 33 minutos. Depois, foi só cera da Ponte, sob os olhares complacentes do juiz. Dá para escrever uma enciclopédia com o "azar" que Romualdo dava ao Timão naquela época. Ficou tudo para a quinta-feira à noite, dia 13, no mesmo Morumbi. Tudo bem, quem esperou quase 23 anos, podia esperar mais quatro dias. Palhinha provavelmente não iria jogar, assim como Zé Eduardo (terceiro cartão) e Adãozinho (expulso, no final do jogo). Pela Ponte, não ira jogar Odirlei, também por cartão.


Frases sobre o Corinthians na época:

"Ele é tudo o que o povo tem" (Elisa, torcedora símbolo)
"Um povo que não tem vitórias na vida e que procura no campo de futebol a própria razão de sua existência" (D. Paulo Evaristo Arns, cardeal arcebispo de Paulo na época e corinthiano sempre)


segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Boa sorte, Tupãzinho

Passada a eleição, já podemos falar um pouco de política. Vi uma notícia que me deixou bem feliz: Tupãzinho, herói da conquista de nosso primeiro campeonato brasileiro, em 1990, foi eleito vereador na cidade de Tupã. Filiado ao PSB, o autor do gol do título contra os bambis teve 90 votos. A disputa lá é bem menos acirrada que nas capitais, mas ele fez bonito se pensarmos que Marcelinho Carioca e Dinei não conseguiram uma vaga em São Paulo. Proeza que o Biro-Biro já havia alcançado há quse duas décadas. Boa sorte, Tupã.



sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Corinthians 1977 - Rumo ao Título (8)

O Corinthians deu uma enorme passo rumo à conquista do Paulistão de 77 ao vencer a Ponte Preta por 1 a 0 no Morumbi. O jogo foi sofrido para a torcida e doído para Palhinha, que marcou o gol da vitória aos 14 minutos da primeira etapa. Doído porque, lançado em velocidade entre os defensores Jair e Oscar, Palhinha chutou forte em cima do goleiro Carlos e a bola voltou violentamente contra o seu rosto, indo morrer no fundo da rede, para o delírio dos mais de 65 mil pagantes naquela noite. Foi um jogo atípico porque o Timão estava desfalcado de seus dois pontas (Vaguinho e Romeu) e entrou marcando forte em seu campo de defesa. Com isso, a Ponte teve muita posse de bola, mas ficou aberta para contra-ataques, que aconteceram o jogo todo. Foram vários gols perdidos, incluindo um lance bizarro em que o centroavante Geraldão pisou na bola na hora de chutar. A vitória iniciou um carnaval antecipado, com fogos pela cidade e  folia na avenida Paulista. Os mais supersticiosos não gostaram disso. Tinham duas décadas de sofrimento nas costas e já haviam visto de tudo no futebol. Estavam com a razão. No segundo jogo, quando uma vitória  simples bastava, as coisas se complicaram, Afina, não há vitórias simples para o Corinthians. Mas isso fica para o posto do dia 9.



Enquanto isso... (1) A cidade parou para assistir no estádio ou na TV a primeira partida da final do campeonato Paulista de 1977. Perto das 21h daquele 5 de outubro, as ruas estavam quase vazias de pessoas e carros. O movimento dos cinemas era pífio. Pouca gente foi assistir a Dersu Uzala, que estreara no cine Arouche há poucos dias, ou a reprise de Psicose, em cartaz no Metro e Gemini, ou ainda ao Jesus Cristo Superstar, no Comodoro. Na mesma hora do jogo, o violinista húngaro Gyorgy Pauk se apresentava no MASP, com expectativa de poucas testemunhas. Até o Jóquei Clube cancelou as provas daquela noite. Afinal em dias de jogos na TV a presença de público caía 40%.

Enquanto isso... (2) Naquela quarta-feira, o ministro da Fazenda Mário Henrique Simonsen anunciou que a inflação de setembro alcançou 1,87%, acumulando 28,9% no ano.

Enquanto isso... (3) Naquela tarde, o líder da oposição no Senado, Franco Montoro (MDB-SP) discursou no Congresso em defesa do jornalista Carlos Chagas, então colunista do Estadão e que estava ameaçado de ser enquadrado na Lei de Segurança Nacional por ter noticiado a invasão do campus da UNB por "forças de segurança" meses antes.

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Corinthians 1977 - Rumo ao Título (7)


E o Corinthians chegou finalmente à final do Campeonato Paulista de 1977. Para isso, venceu o São Paulo por 2 a 1 num Morumbi lotado e um domingo ensolarado no dia 2 de outubro. O Timão precisava vencer e entrou com garra, vontade e o apoio da Fiel, maioria absoluta das mais de 105 mil almas presente no Morumbi (a proporção era de 5 corinthianos para 1 sãopaulino). Carros e ônibus com bandeiras alvinegras pintavam não só a cidade, como também as estradas que davam acesso à capital:  Raposo, Anchieta, Anhanguera, Dutra, formavam uma alegre caravana com muito buzinaço. O técnico tricolor, Rubens Minelli, armou o time para segurar o empate, chegando a escalar um tal de Perez no lugar de Terto só para marcar o ponta-esquerda Romeu. O Timão marcou aos 41  da primeira etapa, com Geraldão escorando um cruzamento de Basílio. No segundo tempo, logo aos 9 minutos, Romeu aproveitou um contra-ataque, ampliou o placar e sai para a famosa cambalhota. O São Paulo foi pra frente e só marcou aos 32 minutos, num lance em que a bola nem entrou, mas o bandeirinha deu o gol. O resto do jogo foi só emoção e chutão. Afinal, o empate daria a vaga aos bambis (na época eram os pós-de-arroz). A final seria decidida contra a Ponte Preta numa melhor de quatro pontos (ou três jogos). O Corinthians perdera todos os jogos para a Ponte até ali e ia jogar a primeira final desfalcado de Vaguinho e Romeu. Mas e daí? Com maior número de vitórias no torneio, o Corinthians poderia empatar a prorrogação do último jogo para levantar a taça. A realização do sonho estava próxima...

                                                Uma homenagem ao artilheiro Geraldão


Enquanto isso (1)...“Alguma coisa acontece no meu coração...” Foi na edição de 02 de outubro de 1977 do caderno Folhetim, da Folha de S. Paulo, que o público brasileiro tomou conhecimento pela primeira vez da letra da música Sampa, até hoje considerada como a canção-tema não oficial da cidade. Caetano Veloso foi um dos entrevistados no jornal daquele domingo (ou outro foi o filósofo francês Jean Paul Sartre) e contou que escreveu a música para um especial que iria ao ar na TV Bandeirantes. A pedido dos repórteres Jary Cardoso e Maria José Arrojo, ele divulgou a letra ainda não superada como retrato fiel da metrópole. O momento cultura estava em alta na cidade, com show do Caetano, a Bienal que abrira na véspera e o 1ª Mostra Internacional de Cinema, que ia começar daí há 20 dias.

Enquanto isso (2)... Aquele clássico entre Corinthians e São Paulo de 35 anos atrás marcou a estreia do locutor Osmar Santos na rádio Globo. Contratado a peso de ouro e vindo da Jovem Pan, Osmar tinha um jeito revolucionário de narrar o jogo, com extremo bom humor e com bordões como “ripa na chulipa e pimba na gorduchina”, “é fogo no boné do guarda”, além do inesquecível grito de “E que goooooool”. A saída da Pan gerou uma crise, ameaça de processo por rompimento de contrato, inflação de salários nas emissoras e uma competição no radio nunca vista antes. Aos poucos, a Globo foi ganhando audiência e se fixou na memória de uma geração inteira de torcedores.

Enquanto isso (3)... Na noite daquele domingo, a TV Cultura estreou um programa revolucionário para os padrões de então, o Vox Populi, com perguntas do povo nas rusas para um entrevistado no estúdio. O primeiro entrevistado era o temido secretário de Segurança Pública Erasmo Dias, envolvido naqueles dias em episódio de dura repressão a reuniões de estudantes na USP e na PUC.