segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Maloqueiro sim, bandido não

Ô, ô, ô, corinthiano maloqueiro e sofredor. Era assim que as torcidas adversárias provocavam a Fiel nos anos 60 e 70, aquela desgraçada era sem títulos. A intenção de provocar era dupla: juntava a má fase do time com o preconceito contra a maioria humilde da massa de torcedores. Mas o tiro saía pela culatra. Inflamada, a torcida repetia o refrão de menosprezo e acrescentava um "Graças a Deus" no final.

O Corinthians nunca se escondeu de sua origem humilde, nem da maioria de seus seguidores. Clube popular é assim mesmo. Uma vez vi o Alceu Valença se referir à torcida do Santa Cruz como a "torcida do sarapatéu". Existem exemplos assim no Brasil inteiro.

Mas voltando ao Corinthians, as malocas eram as habitações dos índios e as habitações autoconstruídas em São Paulo, fossem de madeira ou alvenaria, ganharam essa denominação também. Nos anos 50, as malocas foram imortalizadas pelo corinthiano Adoniram Barbosa, na música "Saudosa Maloca". Quem morava nas malocas eram os "maloqueiros", uma espécie de "favelados" de outra época.

Como acontece até hoje com os habitantes da favelas, havia um estigma de bandidagem implícito no termo "maloqueiro". Mas o corinthiano usava a palavra mais como afirmação da condição humilde e a torcida costumava crescer quando era provocada pelos rivais. Lembro que, já nos anos 80, a torcida do Palmeiras entoou um "silêncio na favela" no Pacaembu logo após a marcação de um gol quase no final do jogo. Por um capricho do destino, o Corinthians empatou minutos depois e a torcida devolveu um "é festa na favela" merecido e contagiante. Eu estava lá e também cantei.

Mas os tempos mudaram e, infelizmente, os black blocks da torcidas organizadas acabaram por assumir o outro lado da condição de maloqueiros, o da violência e do crime. No último sábado, invadiram o CT, plantaram o terror, agrediram o autor do gol do Mundial de 2012 e fizeram os jogadores se esconderem como fossem eles os bandidos. Roubaram e vandalizaram.

Se fosse para seguir a cartilha desses "maloqueiros", Tite teria sido demitido após a eliminação contra o Tolima (não sem antes levar uns tapas), o time seria inteiramente reformulado em 2011 e ainda estaríamos amargando a fila na Libertadores.

Quero ver se a diretoria vai ter coragem de usar as imagens do circuito de TV para identificar a bandidagem e processá-los como deve.

Corinthiano de verdade pode ser maloqueiro, mas não é bandido.